Traduzido por Stephanie Alves
Editado por Vanessa De Souza Soares
Por onde passamos, encontramos homens como Harvey Weinstein. Não são todos, necessariamente, que possuem a visibilidade de um produtor de filme, nem sequer ricos ou famosos, mas estão presentes ao nosso redor. As mulheres sabem o que é ter que lidar com os mesmos. Sabemos o quão exaustivo é lidar com homens que acreditam ter o direito de nos tocar, até mesmo que não seja de maneira sexual. Nossos corpos não são objetos. Não estamos aqui para que nos agarrem, para se sentirem fortes; não, você não têm o direito de nos puxar pelo ombro para fortalecer qualquer que seja seu argumento.
Weinstein, dentre outros que foram expostos ou expuseram a si mesmos como agressores sexuais – como o ex-presidente George H. W. Bush – têm muito em comum, particularmente, um poder significativo. Megyn Kelly em uma entrevista com Seth Meyers discute sobre o problema que acompanha estes homens terem tamanho poder, e menciona, especificamente, que Roger Ailes, ex-chefe executivo da Fox News, nunca poderia ser penalizado por assédio ou agressão porque ele estava no comando do departamento de recursos humanos.
Esses homens se sentem intitulados. Esse é o começo e o fim. Os motivos desses assédios e agressões não podem ser explicados pela brecha que existe entre gerações que muitos tentam utilizar como uma desculpa, apesar da alusão de Weinstein ao movimento de “amor livre” dos anos sessenta. O “amor livre” e o assédio sexual não devem ser confundidos um com o outro.
Precisamos lutar para desencorajar pessoas a se sentirem na autoridade de tocar outras sem o seu consentimento. Em termos de expor a cultura do estupro como um fenômeno problemático, pode ser que estejamos progredindo. Mas quando o atual líder dos Estados Unidos admite em registro que ele mesmo cometeu assédios sexuais, o progresso se torna ainda mais difícil, já que o próprio declarou que todos os que o acusaram estavam mentindo, apesar do fato renomeado de que são muito poucos os assédios sexuais que são relatados (apenas cerca de 40% sao relatados); aqueles que são, quase nunca são frutos da imaginação (apenas dois por cento).
No entanto, nem todos os ofensores sexuais podem pagar altos acordos, ou têm do seu lado o apoio público para sair de sua devida punição judicial. Conversei com mulheres trabalhadoras sobre esse tema; elas reconhecem que homens saem impunes de assédios sexuais – e até de agressões – todo o tempo. Essas coisas não devem ser aceitáveis no local de trabalho, mas são inexplicavelmente permitidas sob o pretexto de que mulheres precisam “relaxar”. Nós não somos tensas – queremos simplesmente trabalhar sem ter que lidar com pessoas constantemente dando em cima de nós.
Um dia, no trabalho, um homem me disse que se sentia atraído por loiras e queria se encontrar comigo fora do meu trabalho. Eu tinha quinze anos; o homem não poderia ter menos de quarenta. Meu gerente me disse para me acalmar. Os homens nos chamam de “princesa”, “docinho”, “linda”, nos tocam deliberadamente quando tentamos apenas os entregar algo. Muitas mulheres experienciam o fenômeno conhecido como a massagem sem consentimento porque “parecemos tensas”. Nos dizem que devemos sorrir mais, quando o que realmente queremos dizer aos homens é que nos deixem em paz. Tudo o que queremos é que nossos corpos sejam apenas NOSSOS.
Uma dica aos homens que estão lendo isso com indignação, pensando que nunca fizeram nada assim: não, eu não estou falando de você necessariamente. Tenho certeza que você é uma boa pessoa. Mas é bem provável que alguma vez (ou duas, ou várias) você tenha tocado em alguém quando esta não quisesse que o fizesse. Que você diga que têm nojo daquele cara que foi preso por estupro recentemente, não é suficiente. Não basta você dizer que ama sua esposa, mães, irmãs e filhas, ou que você quer que o mundo seja um lugar seguro para elas. Definitivamente, não é suficiente que você se sente em frente a uma tela, satisfeito por acreditar que você não é como Weinstein.
Mulheres têm o direito de viver o seu dia-a-dia sem serem tocadas. Devemos ter o direito de viver nossas vidas sem sermos constantemente objetificadas. Eu não deveria sentir como se tivesse que olhar para trás a cada segundo para ter certeza que ninguém está me seguindo na rua, ou sentir que sou eu quem devo manter uma certa distância de tal colega de trabalho se percebo que ele está muito perto de mim. O ponto que eu tenho a firmar não deveria ser tão radical.
Sophie Allen é colunista no Collegian e pode ser contatada através de [email protected].
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