Traduzido por Stephanie Alves
Editado por Vanessa de Souza Soares
Eu nunca tinha visto um jogo de futebol americano inteiro antes do dia 4 de fevereiro, quando eu assisti ao Super Bowl. Eu vestia uma camiseta dos New England Patriots e aplaudi com meus amigos quando os Pats marcaram um “touchdown”, e eu ri e encorajei as brincadeiras que estavam acontecendo enquanto sentava a pouca distância do meu quarto. Foi divertido para mim ser parte de tal tradição porque a sala estava com um bom clima … até que os Patriots perderam.
A sala ficou em silêncio enquanto todos se enraiveciam – eu podia sentir a tensão crescente, o que me fez sentir desconfortável. Logo depois de sair da sala, eu testemunhei um torcedor dos Patriots colocar seu vizinho, torcedor dos Eagles, contra a parede. O vizinho virou contra o outro num piscar de olhos, apenas porque eles estavam torcendo para equipes rivais. Sem sequer dar dois passos para frente, uma menina disse ao menino que acabara de ser empurrado para “fechar a p**** da boca.” Eu não pude deixar de dizê-la para ter cuidado com seu palavriar. Mesmo ele vestindo um moletom do Eagles e eu uma camisa do Patriots, ele continua sendo meu vizinho e eu não poderia deixar alguém desrespeitá-lo de tal forma por conta de um jogo.
Foi então que eu percebi o que estava realmente acontecendo: alunos sentiram o direito de ser desrespeitosos e violentos porque seu time de futebol americano havia perdido. Os estudantes se sentiram no poder de ignorar os limites de segurança e civilidade, porque seu time havia perdido um jogo. Neste ponto, eu vi como as ações deles refletiam seus privilégios – assim como as minhas.
Quando me virei, vi alguém sair de uma sala, seu sangue escorrendo pelas mãos no chão do corredor. Minha mão instintivamente pegou o meu telefone para gravar a situação: eu tinha que mostrar a todos no Snapchat – eles não iriam acreditar. Em vez de tentar ajudar ou me retirar da situação, eu dei rédeas ao espetáculo, colocando-o em toda a web.
Isto parecia ser uma reação comum daquela noite. Haviam vídeos e fotos de alunos destruindo suas próprias propriedades e da Universidade de Massachusetts. A foto de um banheiro que foi parcialmente destruído se tornou viral; a porta quebrada, encostada no vaso sanitário. Além de pensar que era absurdo, eu também me perguntava, “Quem é que vai limpar isso?” É altamente improvável que o(a) aluno(a) que quebrou a porta iria ter que lidar com as consequências (mesmo que ele(a) tivesse que pagar o custo dos danos). Em última análise, se o aluno não tem que pagar, eu realmente não me importaria se a Universidade tivesse que usar um pouco do seu dinheiro para consertar o vaso sanitário, mas os servidores de manutenção da universidade não são nossos escravos, e eles não estão aqui para limpar coisas destruídas sob estas circunstâncias. No entanto, a nossa equipe de manutenção se mantém responsável pela limpeza mesmo sendo esta um resultado de atitudes infantis tomadas pelos estudantes após a perda de um jogo.
O que acontece quando Colin Kaepernick se ajoelha durante o hino nacional? Ele é visto como um terrorista. O que acontece quando estudantes da UMass se revoltam após o Super Bowl? Um artigo de opinião é publicado alegando que tumultos fazem parte de uma cultura que fortalece a relação entre estudantes, e a polícia diz educadamente, “nós entendemos que os Patriots perderam, mas por favor, vão para dentro.”
Eu vi de longe como as pessoas gritavam: “brutalidade policial!” quando um oficial prendeu um estudante embriagado que tinha acabado de começar uma briga. Mas isso não é a brutalidade policial; o que aconteceu com Freddie Gray é uma brutalidade policial. A falta de força utilizada pelos oficiais é o que me surpreendeu: balas de borracha e gás lacrimogêneo foram as medidas mais extremas usadas.
Imobilizar e algemar alguém que está fisicamente violento e embriagado não é brutalidade policial, e se você pensa o contrario, você é privilegiado(a). A polícia não abusou de sua força na noite do Super Bowl na Umass. Ninguém foi acusado de terrorismo como foram os manifestantes do Black Lives Matter, apesar dos estudantes estarem aterrorizando a sua própria universidade. Ninguém foi morto. Manifestações violentas pela perda dos Patriots foram consideradas socialmente aceitáveis. Eu só queria que esse mesmo privilégio fosse estendido para os manifestantes que lutam por algo importante.
De acordo com um artigo de opinião do dia 5 de fevereiro, “Sports gatherings bring students together (encontros esportivos unem os alunos)”, o autor argumenta que revoltas como esta são essenciais para a cultura da UMass. No entanto, o artigo foi inteiramente baseado em torno da idéia de que todas manifestações unem as pessoas, e isso não é como eu as vejo por inteiro. Em meio a revoltas após o Super Bowl, um vídeo foi postado de um estudante branco gritando insultos raciais fora de uma janela dirigidos a um estudante negro porque ele era um fã dos Eagles. Este vídeo me mostrou que este não era um grupo unido e esta revolta não estava unindo ninguém – estavam virando as pessoas umas contra as outras e causando caos; tudo porque os Patriots perderam um jogo.
Vendo meus vídeos em mídias sociais, meus amigos que não são desta universidade me mandavam mensagens perguntando: “O que é esse privilégio?”
Sonali Chigurupati é um contribuinte do Collegian e pode ser alcançado em [email protected].
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