Ninguém gosta de escutar sobre coisas ruins acontecendo na Universidade de Massachusetts, sejam elas o declínio do lanche da madrugada, o silenciamento dos post-its em Southwest ou histórias mais serias como o recente incidente racista em Melville. Entretanto, a verdade é que coisas ruins acontecem na UMass e é dever dos estudantes reportarem esses problemas e fazerem com que ganhem mais visibilidade. Então, por que será que jornalistas estudantis têm sido negados informação repetidamente por parte da Universidade?
Eu tenho certeza que para a administração da UMass, jornalistas estudantis intrometidos são como aquele aluno na sala que faz perguntas demais: irritante, barulhento e constantemente levantando a mão, mesmo quando você tem certeza que ele não pode ter mais nada a dizer. A UMass não quer nenhum tipo de publicidade negativa, e por que ia querer? É uma universidade publica cujo negócio consiste em fazer com que pessoas lhe deem dinheiro. Apesar disso, quando problemas surgem com relação à vida e segurança estudantil, não seria importante informar aos estudantes?
Kacey Connoly, residente da torre Washington na área residencial de Southwest, estava escrevendo uma coluna para o Massachusetts Daily Collegian em relação à segurança no elevador, ou melhor, sobre a falta dela, quando percebeu que tinha dificuldade conseguindo informações da equipe residencial. Ela tentou repetidas vezes contatar os funcionários residenciais em seu prédio para perguntar quando os elevadores seriam consertados, mas foi consistentemente ignorada. Além disso, em uma palestra recente para a aula de educação midiática, o ex-aluno Eric Bosco descreveu os enormes obstáculos que ele enfrentou por parte da Universidade quando estava denunciando condutas inapropriadas relacionadas a uma overdose de heroína em 2013.
Será que os administradores acham que os estudantes não vão falar uns com os outros, especialmente sobre assuntos que impactam nossa vida no campus? É meio óbvio que estudantes irão falar sobre esse tipo de coisa. Por que será que os funcionários residenciais tentam suprimir histórias antes que elas apareçam? Serão eles culpados, ou será que seus superiores estão colocando-os sob pressão? Quão fundo será que isso vai?
Devido ao código de conduta dos assistentes residenciais, que diz que “’é esperado que eles educadamente se recusem a prestar comentários” se contatados pela mídia, assistentes residenciais não devem levar a culpa. De fato, é difícil colocar a culpa em um grupo específico. Assistentes residenciais tem de prestar contas aos diretores residenciais, que por sua vez tem seus próprios chefes. Assistentes residenciais são encorajados a abrandar as situações de conflito em suas comunidades residenciais. Eles não podem contatar a mídia como assistentes residenciais e eles não podem divulgar informações sobre nenhum tipo de problema que tenha ocorrido na comunidade residencial para repórteres. Isso pode fazer com que incidentes sejam varridos para debaixo do tapete e menosprezados. Por que será que eles não podem discutir tópicos sensíveis com a mídia? É porque os assistentes residenciais não representam somente a si mesmos, mas também suas comunidades residenciais, o departamento de vida residencial e, por fim, a própria UMass. Lidar com os problemas dentro das comunidades residenciais é extremamente desencorajado, e inclusive visto como uma violação do código de conduta dos funcionários. Assistentes residenciais são encorajados a organizar reuniões de andar para discutir tópicos mais abertamente, ao invés de confrontar e disciplinar estudantes individualmente.
Ao invés de suprimir o grosso dos incidentes, não seria melhor abordá-los diretamente e punir as pessoas responsáveis? Deixem que os jornais publiquem as histórias. Deixem que as pessoas leiam sobre o que está acontecendo no campus e, melhor ainda, deixem que leiam sobre as pessoas que discriminam contra membros da comunidade e as punições que tiveram que enfrentar por causa disso.
Vamos encarar os fatos – a UMass não tem aparecido de formas positiva no noticiário ultimamente, mas parecem haver algumas opções para combater esse surto: as histórias de terror das comunidades residenciais poderiam ter sido erradicadas e silenciadas pelo todo poderosos punho do departamento de vida residencial. Alternativamente, esse mesmo departamento poderia ter punido os responsáveis e divulgado as punições. Se as pessoas sabem que certas ações têm consequências, a chance de que tentem a sorte é bem menor. Eu entendo a necessidade de proteger indivíduos da exposição pública, mas a que custo? Seria isso mais importante do que a qualidade de vida no campus? Deixem que assistentes residenciais falem com seus colegas na mídia sem medo de perderem seus empregos e suas moradias. Deixem que a voz dos estudantes seja ouvida.
Ana Pietrewicz é colunista do Collegian e pode ser contatada através do email [email protected].
Gabriella Lalli Martins é tradutora de português do Collegian e pode ser contatada através do email [email protected].
Letícia Medeiros é editora de português do Collegian e pode ser contatada através do email [email protected].